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Novo presidente da ABIH defende união no turismo para superar dificuldades

ruO hoteleiro Ruy Gaspar foi eleito para presidir a seção potiguar da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH/RN), cumprirá mandato de dois anos, a partir de 1º de janeiro de 2015. Como foco da gestão, ele afirmou que será “unir mais ainda todo o setor turístico”.
Para o futuro presidente da ABIH no estado, seria essencial que o Governo do Estado enxergasse a atividade turística como prioridade. “O turismo é a melhor indústria que a gente tem. É uma indústria não poluente e a forma mais fácil de socializar o ganho financeiro”, justificou.
Nesta entrevista ao portalnoar.com, Ruy Gaspar fala sobre as expectativas ao assumir a entidade e faz um panorama da situação atual do setor.
Quais as suas expectativas ao assumir a entidade? Qual será o foco da gestão que se iniciará em 1º de janeiro de 2015?
Será unir mais ainda todo o setor turístico, todas as pessoas que estão envolvidas na cadeia do turismo. Hoje existe uma união muito grande de várias associações, mais participativas e mais ligadas, que é o caso do NCVB (Natal Convention & Visitors Bureau), Coohotur (cooperativa de empresários que administra o Centro de Convenções de Natal) e Abav (Associação Brasileira de Agências de Viagens). Mas tem outros setores que são importantes e vivem do turismo, como a associação dos bugueiros, a associação dos guias de turismo, até mesmo os ambulantes de Ponta Negra. Na verdade, muita gente depende, são 52 atividades que orbitam em torno do turismo. As pessoas em geral têm uma tendência muito grande a achar que quem ganha com o turismo são apenas os hotéis, mas provavelmente isso ocorre porque elas não têm conhecimento de que apenas 15% do gasto de um turista no destino ficam com os hotéis.
Qual a importância dessa união entre as entidades? O que esse comportamento pode provocar de melhorias?
Tem um ditado que diz que a união faz a força. Então, na hora em que há uma representatividade maior é mais fácil chegar ao poder público e mostrar a importância de algumas ações. O que a gente mais exige do poder público é que se faça divulgação, captação, investimento em publicidade para atrair mais turistas até a cidade. Infelizmente, estamos órfãos disso há muito tempo. A gente vê nossos vizinhos Ceará, Pernambuco, Paraíba – que era fraca e hoje tem feito um trabalho muito forte – Alagoas, Sergipe e Bahia atuando permanentemente, enquanto o Rio Grande do Norte vem ficando para trás. Nos últimos 10 anos, a gente caiu muito, perdeu todo o mercado internacional, agora só temos os voos da TAP, enquanto antes a gente tinha charter de toda a Europa. Chegamos a ter 22 voos charters internacionais.
Por que isso aconteceu?
Uma das razões foi a falta de apoio do poder público para os voos internacionais. Os operadores turísticos vinham aqui e eram, eu diria, até maltratados, enquanto eles vão em qualquer outro destino e são tratados “com tapete vermelho”. Aqui, de todas as promessas de acordo que os governos fizeram com essas operadoras, nenhuma foi cumprida. O empresário investe, obviamente, para ter um retorno, lucro; mas se não há retorno, lucro nem apoio do poder público, ele cancela o voo e vai embora. Esses empresários estão tendo apoio no Caribe, na Tailândia, em vários lugares e nenhum aqui. Além disso, quem estava suportando tudo eram os hotéis, porque houve uma defasagem cambial muito grande de 2002 para cá e a gente teve que lidar com os mesmos contratos durante esse tempo. Tentamos fazer a nossa parte, mas não houve contrapartida nenhuma e, infelizmente, fomos perdendo um por um. Tanto é verdade que Pernambuco, Ceará e Bahia não ficaram tão ruins quanto a gente. Natal chegou a ser, em um determinado momento por volta de 2002 / 2003, o 4º destino internacional do Brasil e hoje talvez não esteja nem entre os 15 primeiros.
O que pode ser feito para reverter esse quadro?
É difícil. Depois que se perde alguma coisa, o custo é bem maior para recuperar do que se tivesse trabalhado para manter. Particularmente, eu tive uma ideia em 2004, que é uma PPP (parceria público privada) entre o Governo Estadual e o agente privado, que teria que ser posta em prática por um governo e um secretário de turismo que tivessem credibilidade, para que os operadores internacionais acreditassem nesse projeto. Seria da seguinte forma: o maior problema da operadora lá fora são os assentos vazios nos aviões, porque provocam prejuízo. Cada voo charter deixa em um ano na economia da nossa cidade em torno de US$ 8 milhões e a ideia é que em cada voo desse o estado bancasse a preço de custo 10 assentos, a hotelaria bancaria a hospedagem dessas pessoas e o receptivo faria os passeios também de graça. Esses 10 lugares seriam ocupados por agentes de viagem e integrantes da imprensa, que são vendedores. Fazendo isso, acho que poderia haver algum retorno. Ainda não conversei com o pessoal do receptivo, mas não tenho dúvida de que eles aceitariam isso, mas é preciso o poder público também querer fazer alguma coisa.
A visibilidade que a Copa do Mundo deu a Natal ainda pode ser explorada na atração de turistas para a cidade?
Acredito que isso ainda possa ser feito, embora tenhamos perdido uma grande oportunidade de fazer alguma coisa. Infelizmente o poder público é muito lento, não tem a agilidade do empresariado como um todo. Eu acho que se a gente tivesse realizado ações um pouco antes, durante a Copa e um pouco teria havido um resultado muito bom. Por exemplo, existe um relacionamento muito forte entre Natal e os Estados Unidos, o Rio Grande do Norte foi considerado o trampolim da vitória na Segunda Guerra Mundial, tem muita coisa que a gente faz ou usa que eles trouxeram de lá. Tinha como a gente saber de onde vieram os americanos para Natal e se veio mais gente de determinada região, poderia ser feita uma divulgação forte nessa região. Certamente haveria retorno.
O perfil do turismo no Rio Grande do Norte vem mudando. Qual a realidade do estado hoje?
Hoje a gente recebe um turista de baixo poder aquisitivo, mas os hotéis de quatro ou cinco estrelas têm que manter todo um padrão elevado. Isso ocorre por causa do câmbio. Para a gente, graças a Deus, o câmbio está subindo e espero que suba bem mais, porque com certeza vai inibir viagens internacionais e fazer com que mais turistas venham a Natal.
O fortalecimento da classe C tem sido muito comentado nos últimos anos. Isso tem influenciado no setor hoteleiro potiguar?
Eu acho que foi o que nos salvou. Porque na hora em que perdemos o mercado internacional, perdemos o pessoal das classes A e B, que passou a ir mais para o exterior. Ao mesmo tempo, a classe D que foi para a C passou a viajar mais pelo Brasil.
Viajar pelo Brasil é mais caro do que ir ao exterior?
Sim. Isso ocorre por causa do câmbio. O dólar em 2002 chegou a R$ 4, na época todo mundo achava que o “dólar real” era R$ 3. Estamos em 2014 e o dólar está a R$ 2,55. Então, quando eu faço um acordo tarifário com qualquer operadora, não consigo repassar a perda que eu tive. Se eu vender a minha diária por € 80 e a cotação cair, não posso aumentar a diária para recuperar a minha perda, porque o operador não vai aceitar. O que acontece é que o turista faz uma conta, por exemplo, se custar US$ 1500 [cerca de R$3.800] por pessoa para viajar para fora do Brasil, enquanto para vir a Natal custar R$ 3000, muitos irão para outros países, pois o valor é quase o mesmo.
Além do câmbio, quais são as maiores dificuldades atuais do setor no Rio Grande do Norte?
O pessoal fala muito na interiorização do turismo, parece que esse assunto está na moda, mas para que isso vire uma realidade é preciso primeiro trazer o turista até Natal. Então tudo volta ao que já falei anteriormente. Depois que o turista for atraído a Natal, se o governo quiser fazer a interiorização, precisa chamar alguns receptivos e subsidia-los no início, já que ninguém vai disponibilizar um ônibus para ir ao interior e ter prejuízo. Se não for assim, não vai acontecer nunca a interiorização do turismo. Por exemplo, Santa Rita de Cássia é o maior monumento católico do mundo e poderíamos ter um turismo religioso muito forte. A pessoa poderia vir a Natal e depois iria até Santa Cruz.
Como é possível abordar novos públicos, além do turismo de sol e mar, que é o mais forte em Natal?
O turismo de eventos tem crescido, mas indiscutivelmente o turista de lazer que vem de férias, seja para Natal, Fortaleza, Maceió, Porto de Galinhas ou Bahia, procura sol e praia. O turista vem buscando sol e mar e se tiver outras opções em torno dos atrativos iniciais será muito mais agradável, ele vai querer voltar. Eu imagino no Forte dos Reis Magos, por exemplo, um restaurante que possibilitasse ao turista fazer uma visita e depois jantar lá mesmo. É bom lembrar que a maneira mais fácil de manter algum patrimônio é encontrando uma forma de usufruir dele, porque as pessoas estariam naturalmente cuidando dele. Lembrei agora de duas ideias brilhantes, que já têm todo o projeto, considerando o meio ambiente: uma é utilizar a praia de Alagamar – em Ponta Negra – como praia de nudismo, o que nos deixaria como a única capital do país com uma praia de nudismo; a outra era construir um mirante no Morro do Careca, todo em madeira, para que as pessoas pudessem subir e ver quase a cidade inteira.
Os turistas que vêm para eventos costumam voltar depois com a família?
Muitos voltam. Se a gente não tivesse um destino forte, o turismo de Natal não existiria mais, pois o que o mantém é uma luta permanente de poucos empresários, defendendo a atividade. Eu sou suspeito para falar, mas não adianta comparar Natal com Fortaleza, Maceió, João Pessoa ou outra cidade do Nordeste. Natal é disparado o melhor destino.
Para finalizar, gostaria que o senhor falasse um pouco sobre a necessidade da redução na alíquota do Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação (ICMS) que incide sobre o querosene de aviação (QAV). A ABIH vai ajudar a cobrar essa medida junto ao próximo Governo do Estado?
Certamente. Esse foi até um dos motes de campanha do governador eleito. Dessa forma, acredito que ele irá promover a redução. Entretanto, apenas essa medida não será suficiente para reverter tudo que Natal já perdeu, apenas vai estancar. Essa ação deveria ter sido tomada há dois anos. Outros estados do Nordeste efetuaram a redução e ficamos para trás. Todo mundo tem consciência hoje que se a pessoa embarcar por João Pessoa vai pagar um terço do preço na passagem de avião do que pagaria se saísse de Natal. Isso é um absurdo e faz com que pessoas que tenham a praia da Pipa como destino pousem no aeroporto de João Pessoa. Inclusive o acesso para lá é melhor do que pelo nosso aeroporto novo, em São Gonçalo do Amarante. Nós só temos dificuldade e acredito que é preciso acabar com essa balela, as pessoas precisam entender que quando se investe em alguma coisa, pode-se ter uma perda momentânea, que depois se reverte em um benefício muito maior. É como eu falo sobre divulgação e publicidade: se o governo investir mais verba em divulgação, isso vai dar retorno, porque virá mais gente a Natal, mais impostos serão pagos e a economia ficará mais irrigada.

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