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Entrevista Tribuna do Norte – José Odécio Júnior, Presidente da ABIH-RN

O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no Rio Grande do Norte (ABIH-RN), José Odécio Júnior, concedeu entrevista neste domingo ao jornal Tribuna do Norte. Confira.

Em meio ao cenário de recessão e redução da malha aérea em mais de 30% de voos para Natal, praticado pelas companhias aéreas, a isenção da alíquota do Imposto sobre a circulação de mercadorias e serviços do querosene de aviação (QAV) para os voos fretados – anunciada nesta semana – é, na avaliação do presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hoteis, José Odécio Júnior, uma das medidas para a recuperação do setor do Turismo potiguar. Após queda de 86% da taxa de ocupação na alta estação – primeiros três meses do ano – para uma média de 50% agora em abril, as projeções para o restante do ano são de manutenção do desempenho de 2015. “Esperamos com essa medida que se não crescermos, pelo menos manter os números de 2015, com ocupação média anual de 66% em Natal, o que considerando a crise já é satisfatório”, disse. Em entrevista a TRIBUNA DO NORTE ele avalia o cenário atual, fala da captação de novos mercados e política de promoção do destino.

Como o senhor avalia esse primeiro quadrimestre de 2016 para o setor?

Na alta estação, que vai de janeiro a março, tivemos um ligeiro crescimento. O ano de 2015 foi melhor do que 2014. O acumulado do primeiro trimestre de 2016 foi de 75%, enquanto no mesmo período de 2015 foi de 73,6%. Já em abril, deste ano mostrou uma queda de 2 pontos percentuais em relação a 2015,em 2015 foi 53% e este 51% a taxa de ocupação.

A que deve essa redução em abril, é típico da baixa temporada? 

Costumo sempre dizer que a crise e o setor do turismo não passam à margem da crise, embora com menor impacto, também foi afetado e sofre com isso. Mesmo que tenhamos tido uma alta taxa de ocupação na alta estação. Mas o período de baixa [estação] tem se mostrado preocupante. Não porque o setor ou o Governo tenha deixado de fazer sua parte, mas devido à crise que tem afetado. Claro que o investimento que o Governo tem feito está aquém do que precisaria ser feito, mas reconhecemos ser mais do que nos Governos anteriores, mesmo com limitações devido a esta crise. Seria insensível exigir mais do que está sendo feito. O que faz o setor do turismo também ter queda, a preocupação mesmo vem da economia do país. O cidadão que está na iminência de perder o emprego não investe em férias, ele não viaja, ou se faz é algo menor, pra perto. Há de se olhar para o mercado com essa preocupação.

Muito se fala que devido a disparada do dólar, em vez de viagens ao exterior, o turismo doméstico se beneficia. Qual o reflexo para o turismo interno?

No primeiro momento, o aumento do dólar há um benefício. Mas a economia sofreu uma queda vertiginosa nos últimos meses. Então, as pessoas que viajavam para fora do país, não estão mais indo porque estar lá está mais caro. E preferem viajar pelo Brasil. Isso leva a uma mudança do perfil dos turistas que estamos recebendo. O turista deixa de ser classe C+ e passa a ser mais predominantemente classe B, que se volta para o mercado interno. Isso porque a classe C+ está vendo seu poder aquisitivo se diluir com a inflação alta e não tem viajado. Enquanto a B que, ia para o exterior, viaja agora pelo Brasil. Mas isso não é suficiente para aquecer o setor. Se o cenário fosse de câmbio favorável e de crescimento lento ou pelo menos estabilidade da economia, teria um aquecimento no mercado. Não existe confiança para dizer que vai viajar.

E quais as projeções do setor para o restante do ano?

Tivemos agora uma importante decisão para isso. O governo acabou de zerar a alíquota do ICMS do querosene de aviação para voos charters nacionais. O Governo está preocupado com a manutenção da estabilidade do setor, porque reconhece a importância do setor para a economia do Estado. Essa medida busca equilibrar essa balança. A medida é importante porque, em função da crise, as companhias aéreas reduziram a malha aérea em todo o país e não só aqui. Natal tem o agravante por ser fim de linha e teve uma redução significativa no número de voos, mesmo com o incentivo com a redução do ICMS do QAV para voos comerciais.

Qual a expectativa do setor com esta isenção para os charters?

A isenção que agora se dá para os voos charters vai permitir que operadoras de turismo que tem volume, possam alugar aviões para o Rio Grande do Norte e com isso, conseguir manter um preço de pacote de férias mais competitivo. E a perspectiva é que com essa medida aumente o número de voos charters e Natal se apresente mais atrativo que outros. O Governo tem se antecipado aos problemas da crise. Esperamos que essa medida tanto a CVC Viagens quanto a Fly Tour, que já sinalizaram na intenção de ter charter, isso possa ainda baratear o custo das passagens aéreas. Ter uma tarifa competitiva. Hoje Natal já é mais barata na tarifa da rede hoteleira, falta o aéreo que subiu vertiginosamente nos últimos 12 meses. Natal sempre teve uma tarifa muito mais alta do que em recife, Fortaleza, João Pessoa. Esperamos com essa medida que se não crescermos, pelo menos manter os números de 2015, com ocupação média anual de 66% em Natal considerando a crise já é satisfatório.

Com a redução do ICMS do combustível de aviação para os voos comerciais, de 17% para 12%, havia uma expectativa de redução do preço da tarifa. Não se concretizou? 

Os números mostram que em 2015 tivemos um crescimento no número de turistas em relação a 2014. Pena que essa redução só veio bem depois de outros estados. Fomos o último no Nordeste. Perdemos um tempo precioso, mas houve incremento basta olhar para 2014 que mesmo com a Copa do Mundo foi um fiasco. Mas isso foi por conta da redução de tarifa em 2015? Não tenho esse dado, só a Infraero. Sempre digo que é um conjunto de fatores, essa medida, a sinalização do governo para as companhias aéreas de que estava aberto para parceria, que  Estado de volta a prateleira, isso tudo leva a resultado.

Como está a captação por novos mercados?

Começamos junto a Secretaria de Turismo e Emproturn um trabalho de divulgação do destino Rio Grande do Norte no mercado externo, com a participação de feira em Lisboa, ano passado, junto com operadora Abreu. E já começamos a ter uma procura maior do mercado europeu. Claro que o mercado internacional tem uma reação mais lenta do que o nacional, o trabalho que começa agora tem frutos em um, dois anos. E esta sendo feito após mais de uma década de paralisação de ações de promoção, um abandono do mercado internacional. Participamos ano passado dessa feira, este ano já está sendo discutido entre Governo e a TAP a divulgação com mídia, nos aviões, em voos na Europa, além de uma parceria da ABIH, Governo do Estado, com a Associação Portuguesa de Agencia de Viagens para fazer “funtur” e também de mídia para recolocar o destino naquele mercado. Além disso, tivemos um grande fluxo de turistas da América do Sul, argentinos, chilenos e uruguaios com os novos voos. Também estamos trabalhando neste que é um importante mercado, para manter o fluxo do turista internacional para compensar possíveis quedas no nacional.

Como o senhor avalia a política de promoção e investimentos em turismo do Estado?

O Estado tem feito o que pode diante da crise. Há boa vontade, mas também limitações financeiras. Por meio do RN Sustentável, o governo tem conseguido participar de muitas ações de promoção. A Setur e a Emproturn conseguiram emendas parlamentares e em breve estaremos discutindo com o líder do governo a liberação desses recursos, para uso em promoção do turismo. Os recursos são escassos, estamos buscando em todas as esferas recursos para a promoção. Concorremos com Pernambuco, Ceará, Bahia e também com Alagoas e se não formos competitivos, passaremos ao largo.

Quais as expectativas para os feriados? Os resultados são os esperados pelo setor?

Acontece que as maiorias dos hotéis trabalham com pacotes de 5 a 7 dias. E, diferente Pipa que tem baixa ocupação na semana, alta nos fins de semana e que aumenta nos feriadões, sobretudo quando tem evento, em Natal a rede se beneficia dos feriados, é um período que se mantém cheio. Mas feriadão é de dois a três dias. Pensando no longo prazo em hotel com 200 quartos, é melhor ter uma tarifa mais baixa e ocupar a semana toda. Então, em Natal, o que entra no feriado é o excedente do que não foi ocupado no computo dos pacotes de operadoras.

O setor deve continuar demitindo?

Não tenho número de demissões. Mas quando você pula de uma ocupação de 86% para uma de 55% é preciso fazer ajustes, a tendência é dispensar os temporários, readequar o quadro de efetivos para enxugar os gastos. Diante do quadro de crise e do período de baixa estação, com média de 50% de ocupação reduz quadros em alguns setores, o que é natural. Mas acredito que já houve os ajustes e que deve estabilizar. Com a economia se estabilizando volta a contratar, até porque o setor de hotelaria que prescinde mão de obra para garantir a qualidade do serviço.

Fonte: Sara Vasconcelos, Tribuna do Norte

 

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